segunda-feira, 28 de novembro de 2016

SALOMÔNICAS

SALOMÔNICAS
Direção de Hugo Rodas
Canções: Marcus Mota
Elenco: Turma de TEAC/2016
Dia 01 de Dezembro
Departamento de Artes Cênicas
Universidade de Brasília
16:00 e 17:00
Um governante explora o povo com suas megalomaníacas e monumentais obras públicas.
Poder. Sexo. Riqueza.
"Nós vamos construir estádios"
"Nosso Sosô: esperto, sabido demais".



terça-feira, 22 de novembro de 2016

Mais um tópico do ensaio sobre os "miguilins"

Parte 1 - Os contadores de Rosa

Histórico

          O grupo de contadores de estória “Miguilim” foi fundado em 1997[1] pela prima de Guimarães Rosa, Calina Guimarães, na época, médica aposentada. Quando Calina começou a apresentar problemas de saúde, em 2000, sua sobrinha, Dôra Guimarães, que já ministrava as oficinas de formação, assumiu, também, a coordenação do grupo. Em 2005, Elisa Almeida, que ajudava nas oficinas, passou a dividir a coordenação com Dôra. Ambas são educadoras e já possuíam experiência anterior na narração de histórias. 

Meninos e meninas, a partir dos 9 ou 10 anos de idade[2], ingressam em uma oficina introdutória, onde são trabalhados contos simples da tradição oral, que oferecem mais liberdade de improvisação para o contador iniciante. Só depois desse primeiro momento é que vão sendo introduzidos os textos de Guimarães Rosa. De acordo com Elisa Almeida, em entrevista concedida à autora deste ensaio, é um trabalho que tem várias fases:

A gente tem um trabalho com o texto, com o entendimento do texto, com a leitura em voz alta, para compreensão, saber da entonação certa, para só depois memorizar, decorar. Então, é uma coisa lenta. Tem muitos que saem, principalmente nesse começo, que é mais difícil, mesmo. (...) já estamos na nona geração, tem muitos que tem irmãos mais velhos ou primos, amigos que já foram miguilins. E como ser miguilim dá um certo status na cidade, por vários motivos, inclusive porque eles viajam a lugares que eles nunca viajaram (...) já tem muitos que querem, muitas famílias que querem. (Elisa Almeida)


Se tornar “miguilim” é, portanto, motivo de orgulho familiar e pessoal, para aquele que conseguiu superar as dificuldades iniciais. Quando o narrador está pronto para se apresentar em público, ele recebe a camiseta personalizada de contador de estórias “Miguilim”, que simboliza a entrada definitiva do menino ou menina no grupo. Os “miguilins” fazem a visita guiada pelo Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo; apresentam-se durante as “Semanas Roseanas”[3]; e participam de eventos dentro e fora da cidade. Em geral, os “miguilins” permanecem no grupo até os 18 anos, quando muitos têm de sair de Cordisburgo para prosseguir com os estudos, uma vez que não há faculdades nem maiores opções de capacitação profissional no pequeno município, de 9.014 habitantes[4].

Entretanto, os ex-miguilins que, depois de adultos, desejam seguir narrando Guimarães Rosa podem ingressar em outro grupo de contadores: o “Caminhos do Sertão”, fundado em 1998, por José Osvaldo dos Santos, mais conhecido em Cordisburgo como “Brasinha”.[5] O “Caminhos do Sertão” também faz apresentações dentro e fora da cidade e, ainda, promove caminhadas eco-literárias[6] que percorrem as veredas do interior de Minas, tão presentes na obra do escritor. Em determinadas paradas, são apresentadas as performances dos narradores e do violeiro Di Souza, que faz a abertura das narrações com trechos de músicas populares ou composições originais inspiradas na obra de Guimarães Rosa. A partir da XXV Semana Roseana, em 2013, o grupo “Caminhos do Sertão” passou a promover, também, caminhadas literárias “urbanas”, que percorrem as ruas de Cordisburgo.

Elisa Almeida acredita que os narradores de Guimarães Rosa revelam ao seu público a dimensão oral da obra do escritor mineiro, que nem sempre é notada na leitura silenciosa:

O que a gente sente é que descortina uma dimensão que na leitura silenciosa é mais difícil de captar. Eu estou pesquisando um pouco umas correspondências dele, encontrei umas coisas muito interessantes que ele falou com a tradutora dele para o inglês, correspondências que nem estão publicadas, em que ele fala um pouco disso. Ele tinha uma consciência disso: de que a obra dele era para ser ouvida, para ser falada em voz alta. (Elisa Almeida)

Nas performances dos contadores de estórias de Cordisburgo, o tom da fala, um gesto ou uma expressão facial empregada em determinada situação ajudam o espectador a compreender passagens da narrativa de Rosa que poderiam parecer difíceis, se fossem somente lidas, de forma individual e silenciosa. Para Paul Zumthor, toda poesia espera por esse momento de comunicação: “O desejo da voz viva habita toda poesia, exilada na escrita”[7].



[1] Em 1996, foram feitas as primeiras oficinas e, em 97, houve a estreia com o nome de “Miguilim”, conforme nos contou em entrevista uma das coordenadoras, Dôra Guimarães. A íntegra está no item _____, do tópico “Anexos”. *** (estou renumerando os itens, ainda)

[2] De acordo com Elisa Almeida, que também coordena o grupo, a idade de entrada varia entre 9 e 10 anos de idade e o pré-requisito é estar bem alfabetizado(a). O depoimento de Elisa sobre a formação inicial dos miguilins está no item ____, dos anexos.
[3] Evento anual em Cordisburgo que, desde 1989, homenageia Guimarães Rosa e sua obra.
[4] Fonte: IBGE, 2016.

[5] O depoimento completo de “Brasinha”, que também participou desde o início do projeto do grupo “Miguilim”, está no item ___, no tópico “Anexos”.

[6] Caminhadas em grupo nas quais os guias aliam mensagens de cunho ecológico, voltadas para a contemplação e preservação das paisagens naturais, com narrações de contos e declamações de poemas. Além do “Caminhos do Sertão”, outros grupos promovem sistematicamente caminhadas desse tipo, como, por exemplo, a companhia de teatro amador “Toque de arte”, de Paraisópolis (MG), na anual caminhada “Tinha um Drummond no meio Caminho”, que, desde 2011, percorre trechos da Serra da Mantiqueira com paradas para apresentação de poemas do escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade. A Biblioteca comunitária do Calabar, em Salvador (BA), de 2008 a 2012, promoveu a “Invasão Eco-literária”, uma espécie de cortejo pelo bairro, em comemoração à Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, de 23 a 29 de outubro, instituída pelo Decreto 84.631/1980.
  
[7] ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. Trad. Jerusa Pires Ferreira, Maria Lúcia Diniz Pochat e Maria Inês de Almeida. São Paulo: Editora Hucitec, 1997. p. 168.

entrega dos trabalhos

 Os trabalhos podem ser enviados para meu email até o dia 07 de dezembro.
Meu email:
marcusmotaunb@gmail.com
No cabeçalho do email coloque RAPDSÓDICAS e seu nome.

organização textual

Gente, seria ótimo, como já conversamos, ter um sumário, uma ordem dos tópicos de seu artigo.
Essa ordem já projeta os subtítulos de seu trabalho final para a disciplina.
Lembrar que discutir e analisamos a figura do rapsodo e o que ela implica.
Ou seja, não há rapsodo sem um contexto performativo. E atividade do rapsodo se relaciona com este contexto. A organização ou exploração deste contexto é o que podemos chamar de dramaturgia. Para cada aspecto desse contexto temos dramaturgias diversas. Existe uma dramaturgia do rapsodo enquanto performer. Existe uma dramaturgia da recepção . E, fazendo a mediação e a interação entre o performer e a recepção há a obra, uma dramaturgia da obra, que tanto pode ser compreendida no modo como a obra é organizada, como compreendida na globalidade das interações entre rapsodo e recepção.
COmpliquei?
 vamos discutindo.




segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Ensaio sobre os "miguilins"

Boa noite, pessoal! Como estão todos? Acabo de reescrever os quatro parágrafos de considerações iniciais. Da primeira ideia que tive até agora, muita coisa mudou. Decidi dividir o estudo em duas partes e renomear os tópicos, mudar o título e usar como base alguns conceitos de Paul Zumthor, que, inclusive, fez pesquisas aqui no Brasil com cantadores populares. Os livros que usei foram Introdução à Poesia Oral e Performance, Recepção e Leitura. Bom, lá vão o novo título e o primeiro tópico:

Contadores de Rosa / em Rosa: a performance do contador de estórias rosianas e a presença do contador nas estórias de João Guimarães Rosa

“Deus meu! No sertão, o que pode uma pessoa fazer do seu tempo livre a não ser contar estórias?”
J. G. Rosa

“O desejo da voz viva habita toda poesia, exilada na escrita.” 
P. Zumthor

1 Considerações iniciais

Em Cordisburgo, Minas Gerais, cidade natal do escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), os grupos de contadores de estórias[1] “Miguilim” e “Caminhos do Sertão” divulgam a obra do conterrâneo em performances nas quais são declamados trechos do romance Grande Sertão: Veredas e de narrativas como “Campo Geral”, “Meu Tio o Iauaretê”, entre outras. Nessas apresentações, o público se emociona, se diverte e se encanta com as estórias contadas e com as canções entoadas; e se admira com a capacidade mnemônica dos contadores, que chegam a narrar um conto praticamente na íntegra, com pouca ou nenhuma alteração de palavras, o que pode ser considerado uma façanha, em se tratando de uma linguagem nada corriqueira - e considerada “difícil” -  como é o caso da escrita literária de Guimarães Rosa.

            Além do papel divulgador da literatura rosiana, a atuação dos contadores de Cordisburgo atualiza a própria tradição dos narradores e cantadores populares, presentes nos mais diversos grupos humanos, desde tempos remotos como a Antiguidade grega, com seus rapsodos e aedos; até o Brasil do século XXI, com seus repentistas e cordelistas, que desempenham um importante papel de resistência cultural e de partilha de saberes.

Guimarães Rosa uma vez disse que todo sertanejo é, por natureza, um contador de estórias e que ele, como sertanejo, também o era: “(...) nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Está no nosso sangue narrar estórias”[2]. Sendo, ele mesmo, um contador, Rosa privilegiou esses narradores em sua obra literária, transformando-os em personagens como Joana Xaviel e o velho Camilo, de “Uma estória de amor”; e o cantador Laudelim, de “O recado do morro”[3].

O presente ensaio está dividido em duas partes: na primeira, intitulada Os contadores de Rosa, apresentaremos os grupos “Miguilim” e “Caminhos do Sertão” para, em seguida, analisar seis performances de seus contadores de estórias. Utilizaremos, para tanto, o conceito e a teoria da performance do medievalista, historiador da literatura e estudioso da voz, Paul Zumthor. Na segunda parte, denominada Os contadores em Rosa, analisaremos a presença das figuras do contador e do cantador na ficção de Guimarães Rosa, tendo como base os contos “Uma estória de amor” e “O recado do Morro”.

[1] João Guimarães Rosa se referia às suas narrativas como “estórias” e, por isso, utilizaremos esse termo para indicar os contos, novelas e romances escritos por ele. A palavra “histórias” também será utilizada, mas para referência a outras narrativas. O escritor mineiro, no prefácio “Aletria e Hermenêutica”, da obra Tutaméia (1967), defende a originalidade da “estória”: “A estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra da História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida com a anedota. (...) pela etimologia e para a finalidade, requer fechado ineditismo.” (ROSA, J.G. Ficção Completa. v. 2. Rio de Janeiro: nova Aguilar, 2009. p. 529) As narrativas rosianas, mesmo aquelas que se utilizam de “histórias” sertanejas ou tradições literárias preexistentes, têm como característica comum sua originalidade, demonstrada desde a linguagem até a forma de composição dos textos.  
[2] Declaração dada por Guimarães Rosa durante entrevista concedida ao crítico literário alemão Günter Lorenz, em 1965, no trecho em que o autor fala sobre seus primeiros escritos: Veja você, Lorenz, nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Está no nosso sangue narrar estórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos, estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os contos e lendas, e também nos criamos em um mundo que às vezes pode se assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo a gente se habitua, e narra estórias que correm por nossas veias e penetram em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma de seus homens. Assim, não é de estranhar que a gente comece desde muito jovem. Deus meu! No sertão, o que pode uma pessoa fazer do seu tempo livre a não ser contar estórias? A única diferença é simplesmente que eu, em vez de contá-las, escrevia.” (ROSA apud LORENZ, Günter W. Diálogos com Guimarães Rosa. In: ROSA, J. G. Ficção completa. v. 1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2009. p. XXXVII)
 [3] “Uma estória de amor” e “O recado do Morro” são contos integrantes da obra Corpo de Baile, publicada em 1956. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Em construção. Platão, Rapsódicas, diálogo

(capítulo de um livro)
Sumário:
1-Apresentação
2- Platão e os Rapsodos [ em alguns trechos da República, Íon, Fedro (e Ilíada)]
2.1 Fedro e discurso rapsódico
2.2  República, Ilíada e Narrativa
2.3  Íon e Performance
3-Algumas reflexões entre performance, dramaturgia/montagem, audiovisualidade e narrativa em Platão ( os ‘outros’ da escrita-logocentrica) – uma leitura a partir dos modernos (O Narrador, O Futuro do Drama, Lacoonte, The Singer of Tales).
4-Considerações finais: a forma dialógica
5-Bibliografia

2.1-2.2
Antes de analisarmos o livro 3 da República (onde se discute a teoria literária diante da construção hipotética – no discurso –  de uma cidade justa) e algumas partes do Íon (onde Sócrates contracena com um próprio Rapsodo, vejamos o que Platão nos fala acerca dos Rapsodos no Fedro 277d-278a, ao discutir com ele os discursos convenientes (uma espécie de crítica a escrita ou aos discursos, já no final do diálogo):
Porém, aquele que pensa que todo discurso escrito, não importando o assunto, terá, por força, de conter boa dose de brincadeira, e que não há peça oratória em verso ou prosa digna de ser encarada com muita seriedade, tal como acontece com as composições dos Rapsodos, que não permitem exame e nada ensinam, pois só têm a finalidade de persuadir, não passando os mais bem logrados discursos de recurso mnemotécnico para os que (já) sabem; e que julga que somente no discurso que versa sobre a justiça, a beleza e a excelência e que é proferido por mestres no interesse da instrução, e efetivamente numa alma, representa clareza, perfeição e avaliação séria, que tais palavras devam ser tidas como a própria autêntica prole do orador, em primeiro lugar o discurso no interior dele mesmo – se aí puder ser encontrado – e, em segundo lugar, os descendentes ou irmãos desse discurso que possam ter brotado de um honroso modo em almas alheias, e que não atentam para outros discursos- essa pessoa, ó Fedro, provavelmente é como eu e tu desejaríamos nos tornar. (Phaed, 277d-278a)
            A critica socrática é ferrenha para os Rapsodos: de dentro da própria oralidade ( no contexto literário) Sócrates critica os Rapsodos pela sua simulação de saber e sua força/finalidade de persuasão. Em contraposição a essa performance mnemotécnica, Sócrates repousa a dignidade e seriedade em outro modo de discursos. Esse tom irônico e esse confronto com os Rapsodos, com o teatro tradicional e Homero, por parte de Platão, se desdobra em diversos diálogos. Lembremos que Aristófanes, na comédia ‘as Nuvens’, retrata seu Sócrates como um avoado filósofo que acaba por morrer no final da peça(...)
            A receptividade e produção das rapsódias e do teatro grego é algo assistido e presenciado fortemente por Platão - e não só ele mas todo o povo. A formação primeira de Platão (além de ser destinado à política por ser de família nobre) era a de dramaturgo-poeta. Depois de conhecer Sócrates se converte para a filosofia, movendo sua formação nessa direção.
            Mas e o próprio texto platônico? Também ele tenta persuadir para alguma direção. Também ele é em algum sentido rapsódico? Como se interpretar o estilo dialógico? Os diálogos platônicos são uma narração mimética? Uma performance, uma atuação, e portanto estariam em segundo plano, perante as críticas à forma narrativa? Vejamos por um momento como começa a Ilíada em comparação com a República
Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida
(mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus
 e tantas almas valentes de heróis lançou no Hades,
 ficando seus corpos como presa para cães e aves
 de rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus),
desde o momento em que primeiro se desentenderam
o Atrida, soberano dos homens, e o divino Aquiles.
E na República:
Ontem desci até o Pireu com Glaucon, filho de Aríston, a fim de dirigir minhas preces à Deusa, e ao mesmo tempo, com o desejo de ver de que maneira celebravam a festa, pois era  a primeira vez que a faziam. (327a)
É possível descobrir algo acerca dos narradores a partir desses trechos? Quem é o narrador na Ilíada? Nesse caso é o próprio poeta Homero, que raramente ou nunca se mostra como personagem, mas narra os eventos da guerra, imitando os personagens – uma narrativa mista. Um ‘eu homerico[1]’ subentendido que roga a Deusa que cante a ira de Aquiles, e logo começa a narrar o resgate fracassado da filha de Crises.  Na República é o próprio Sócrates (como personagem, e não Platão, o poeta) que narra os eventos e falas dos demais personagens.  O poeta aqui teve que se adaptar ao estilo de Sócrates..“(Eu) desci ao Pireu... para rogar à Deusa...”.  Temos aí alguma evidência acerca do modo narrativo em que se enquadram Homero e Platão? Temos variadas formas de narrativa nos diálogos (em outros parece não haver narrador – o diálogo vem direto). Quais outros elementos dramáticos que temos para pensar essa estranha relação de Platão em conjunção com Homero e os Rapsodos, sua forma de narrativa filosófica? Deveriamos pensar em indicar Homero para ler melhor Platão? Antes só parecia ser preciso acentuar pensadores como Parmênides, Heráclito, Pitágoras..
2.2
No livro três da República, quando Sócrates e Adimanto passam em revista diversas passagens em Homero em que a performance é criticada por levar ou atiçar uma propensão para o mal, temos algo a considerar. Ali não é simplesmente afirmado que todos atos e descrições ditos têm de ser expulsas da cidade dos guardiões. Existem atos e descrições que se salvam no crivo austero de Sócrates: 390d:
“ Mas, quando são descritos ou executados atos de firmeza ante todos os perigos, por homens ilustres, isso deve ver-se e ouvir-se, como quando : “batendo no peito, censurou seu coração: aguenta coração, que já sofreste bem pior!”
Mais tarde em 395c, fala: se imitarem, que imitem desde a infância a coragem, sensatez, pureza, liberdade. “...as imitações, se se perseverar nelas desde a infância, se transformam em hábito e natureza para o corpo, a voz, a inteligência”
Em 392a-Sócrates passa a se ocupar das histórias que se devem narrar envolvendo os homens – histórias sobre a justiça ( por já ter falado a respeito de histórias acerca da divindade, dos heróis, e das coisas do Hades.) e (principalmente aqui) do estilo. Examinando temas e formas das performances, (ou histórias narradas), podemos pensar aqui diretamente em Homero e os Rapsodos – Sócrates fala do poeta que fala por si mesmo – em voz direta – ou seja, de forma narrativa simples, e o poeta que faz uso de imitações (uma performance), mudando o estilo e a voz para cada personagem/fala que imita. Sócrates constroi uma versão de um trecho da Ilíada em narrativa simples. A própria República parece uma narrativa simples (de um diálogo) proferida pelo personagem Sócrates
         Na tragédia e na comédia o poeta não aparece entre as falas, a dizer algo. A narração do poeta é o ditirambo. A composição de ambas (narração e imitação?) é a epopeia (Rep. 394c). As considerações sobre a imitação e a atuação são tecidas com relação aos guardiões (que tem de imitar uma coisa só). Platão não fala somente de temas e estilos, (palavras) mas também das melodias e ritmos 399(a-e) apropriados às vozes de homens corajosos diante de adversidades e ordenados. Elementos como ritmo e melodia se sujeitam ao estilo e a palavra, e essa se sujeita ao caráter da alma (não a um caráter débil e ingênuo, mas à um caráter produzido pela inteligência que o modela para o belo e o bem). A linguagem desarmônica imita o caráter desarmônico e a linguagem harmônica o caráter harmônico, sensato e bom. Qualidades do discurso sincronizam-se com as qualidades da alma. Mas não abole a música ou poesia, concordando serem artes penetrantes e que afetam mais fortemente as almas. Somente se apropria delas pensando nos guardiões da cidade perfeita (e evidenciando aqui  ali tons irônicos dessa proposta – afinal, certos tons e ritmos teriam de ser banidos por serem demasiado prejudiciais às qualidades do guardião perfeito). Platão constrói uma relação filosófica de recepção da produção rapisódica. Platão imita os imitadores para restaurar a verdade do que eles imitam: a própria verdade. (DERRIDA, A farmácia de Platão, p.59).
4
 Quanto a hipótese acerca do texto interpretado através da performance oral, temos uma passagem interessante no Teeteto: para pensar a oralidade performática do texto Platônico. O jeito de pensar escrito e o jeito de pensar oral entram em questão aqui. (P. Lord – The Singer of Thales – p. 125).
Terpsion: (...) Mas que diálogo foi esse? Poderias narrá-lo?
Euclides: Não, por Zeus! Ao menos, não de memória. Entretanto, na ocasião fiz anotações a respeito tão logo retornei para casa. Mais tarde, com tranquilidade, à medida que recordava as coisas registrava-as, e toda vez que ia a Atenas costumava indagar a Sócrates sobre o que não conseguia lembrar; e quando voltava fazia correções, de forma que tenho escrita praticamente toda a conversa. (...) o pequeno escravo lerá para nós. (Teeteto, 143ª)
Uma ressalva deve ser feita; não supomos que os Diálogos seriam fruto desse registro do que o Sócrates histórico  conversava com seus interlocutores. Platão produz diálogos ficcionais-históricos que jogam com a questão da recepção escrita de uma performance-conversa em determinada atmosfera temporal – um jogo também entre verdade e ilusão da escrita. Nesses diálogos se dá a possibilidade de compartilhar experiências diversas na narrativa (costurá-las) – arte do narrador, ligação dos Diálogos com uma espécie de rapsódia?



[1] Que nos coloca no problema homérico, de saber como os poemas (e suas inconsistências) foram assentados em um corpo único e se foram múltiplos poetas. E esses problemas apontam para a característica de oralidade dos poemas 

postagens

Sintam-se livre para postar seu material no blog.
abs.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Ocupação

Estive aqui hoje para informar sobre os rumos da disciplina enquanto o ocupação do prédio estiver funcionando. Bem, seguimos agora com as orientações online. Postem no blog como está o desenvolvimento da pesquisa de vocês. Por enquanto, sem encontro presencial.
abs.
Marcus