EMERGÊNCIA, PROLIFERAÇÃO OU CRISE DA FIGURA DO
NARRADOR – DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE BENJAMIN, LEHMANN E SARRAZAC
Bárbara Gontijo
Walter
Benjamin afirma, em seu artigo sobre a obra literária de Nikolai Leskov,
"O narrador" (1936), que a sua figura está em extinção. Em seu ponto
de vista, o que provoca esse desaparecimento parte da escassa experiência
comunicável e da arbitrária produção de notícias do tempo entre guerras em que
escreve. O romance será, justamente, o rompimento com a tradição narrativa
arcaica, que tem o narrador como aquele que “[conta] sua própria experiência ou
a relatada pelos outros. E incorpora as coisas narradas à experiência dos seus
ouvintes” (BENJAMIN, 2012). Já Sarrazac (2002), em sua tese de que o teatro
contemporâneo passa por uma rapsodização – isto é, resgata uma noção antiga de
um performer que transmite a tradição oral – sugere a existência do
dramaturgo-rapsodo. Ele seria, como o narrador arcaico, produtor de presença
que, nesse caso, é ploriferada e expandida. Sem uma unidade orgânica, as vozes
nos textos se tornam fragmentadas, plurais e desierarquizadas. Lehmann, também
falando do teatro feito a partir do século XX, sugere não só uma disseminação
das vozes e de sujeitos, mas também uma experiência que podemos identificar
como semelhante a que se refere Benjamin com relação ao narrador arcaico.
Afinal, o teatro seria “um tempo de vida em comum que atores e espectadores
passam juntos”, no qual a representação
“faz surgir a partir do comportamento no palco e na plateia um texto em
comum” (LEHMANN, 2002). Portanto, neste artigo, pretende-se cotejar as
diferentes teorizações dos referidos autores com relação à condição do narrador
na contemporaneidade. Com o intuito de cernir as divergências e confluências de
suas perspectivas, os questionamentos aqui propostos investigarão a presença do
narrador no teatro produzido atualmente. Em outras palavras, as observações de
Benjamin sobre o narrador na literatura podem se relacionar com a questão do
drama contemporâneo?
PALAVRAS-CHAVE: dramaturgo-rapsodo, narrador, Benjamin,
Lehmann, Sarrazac
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política:
ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012.
LEHMANN, Hans-Thies. Teatro
pós-dramático. Tradução de: Pedro Süssekind. São Paulo: Cosac
Naify, 2007
SARRAZAC, J-P. O futuro do drama: escritas dramáticas
contemporâneas. Tradução de Alexandra Moreira da Silva. Porto: Campo das
Letras, 2002.
Hans-Thies Lehmann - Teatro Pós-dramático, doze anos
depois Rev. Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 859-878,
set./dez. 2013. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/presenca>
SUMÁRIO
1 – Introdução ao contexto histórico e temático das
proposições a serem estudadas
1.1 – Benjamin, o entre guerras, literatura e Marxismo
1.2 – Sarrazac
e a dramaturgia moderna
1.3 – Lehmann e o
teatro contemporâneo na Alemanha
2 – Exposição das teorias
2.2 – O narrador
em vias de extinção
2.3 – O
dramaturgo-rapsodo (ou autor-rapsodo)
2.4 – O
pós-dramático
3 – Cotejamento entre as teorias: possíveis diálogos
4 – Conclusão
6 – Bibliografia
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